segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

FISCAIS CONTRA O DESPERDÍCIO DE AGUA; POR ENQUANTO SÓ EM SÃO PAULO

Prefeitura de São Pedro (SP) põe fiscais para filmar desperdício de água

Eduardo Schiavoni
Do UOL, em Americana (SP)
 
A Prefeitura de São Pedro, na região de Piracicaba, no noroeste de São Paulo, determinou que fiscais percorram as ruas da cidade, com câmeras filmadoras, e gravem qualquer cena de desperdício de água que encontrarem. Os moradores que forem pegos desperdiçando água serão notificados e multados.
Desde dezembro do ano passado, houve a determinação para que fosse proibido o uso de água tratada para atividades que não sejam essenciais. Para verificar o cumprimento da norma, um carro com fiscais roda a cidade, principalmente na parte da manhã, e registra as irregularidades.
Entre as ações registradas pelos fiscais estão a lavagem de calçadas com água, lavagem de carros e torneiras deixadas abertas. Após registrados, o fiscal faz a notificação e o vídeo é arquivado pelo Saaesp (Serviço Autônomo de Água e Esgoto de São Pedro). Quando receber a penalidade, o morador recebe também uma foto que comprova o desperdício e, se contestar a punição, o vídeo é utilizado como prova. A multa é de R$ 50, além de interrupção no fornecimento de água.
Ainda de acordo com o Saaesp, os fiscais encontram e documentam, em média, seis ocorrências por dia de desperdício. "Não queremos multar, queremos conscientizar as pessoas. Já vivemos o racionamento e, se a população não colaborar, poderá faltar água por mais tempo ainda", afirmou Carlos Eduardo de Souza Mendes, supervisor de serviços da instituição.
A presidente da autarquia, Karla Lovato Pelizzaro de Losso, ressalta que a multa é a última opção. "O melhor, sempre, é prevenir esse tipo de situação e começar agora a utilizar a água potável somente para o que for necessário, sem exageros", disse.

Motivação

Segundo o Saaesp, a medida visa documentar situações de desperdício para evitar contestações dos moradores. Por conta da falta de água causada pela estiagem, São Pedro (a 192 km da capital) já realiza racionamento de água das 13h às 17h, diariamente.
A cidade tem cerca de 35 mil habitantes e, de acordo com dados do Saaesp, capta e distribui 12 milhões de litros de água por dia, o que significa um consumo médio de quase 380 litros por pessoa. "Esse total é mais que o triplo do que o recomendado pela Organização das Nações Unidas, que é 110 litros por pessoa por dia", informou Mendes. Já a média do Brasil é 163 litros por habitante/dia. "Precisamos diminuir esse número", comentou Mendes, para quem a adesão da população tem aumentado nos últimos tempos. "A fiscalização ajuda, mas a população mesmo está sentindo o racionamento e vai se adequando", disse.

Repercussão

Entre dez moradores da cidade ouvido pelo UOL, a medida mais agradou do que gerou críticas. É o caso do comerciante Nelson Aguiar, 56, para quem a população deve entender o momento que a cidade passa. "Água é vida, não dá para ficar sem. Eu mesmo filmo e denuncio se vir alguém lavando carro com essa seca brava que estamos vivendo", disse.
A dona de casa Josiele Garcia, 38, concorda. "Quem fica em casa de tarde e convive com a falta de água não pode ser contra. Racionamento é terrível", comenta.
Único entre os ouvidos pelo UOL a criticar a medida, o administrador de empresas Luiz Bonifácio, 42, afirmou que a prioridade para o Saaesp deveria investir para minimizar os efeitos da seca. "Em vez de criticar a população, eles deveriam reformar a rede de água, impedir vazamentos, combater os gatos. O desperdício de água deles é bem meior do que o de quem lava uma calçada", afirmou.
Questionado sobre o assunto, o Saaesp informou que a perda no sistema gira em 48%, sendo a maior parte por conta de vazamentos na rede de distribuição. O preconizado como aceitável para a realidade brasileira é de 25%.

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