quarta-feira, 4 de setembro de 2013

CINEMA NACIONAL

O Astista contra o Caba do Mal


O primeiro drama que aparece na lista dos filmes mais vistos no ano é a cinebiografia do músico Renato Russo, Somos Tão Jovens, de Antonio Carlos da Fontoura, visto por 1,7 milhões de pessoas. Mesmo assim, a comédia brasileira hoje tem muito a aprender com um filme relativamente pequeno que alcançou 200 mil espectadores nesta semana, mas tem potencial para muito mais.
Se Cine Holliúdy, de Halder Gomes, parece pequeno ao lado de De Pernas Pro Ar ou Minha Mãe é uma Peça, a situação muda quando se observa o lançamento de cada um dos filmes. Enquanto os gigantes estrearam respectivamente em 528 e 406 salas de cinema, o discreto cearense foi lançado com apenas dez cópias, apenas em Fortaleza, chegando a 56 na última sexta-feira, quando chegou a outras cidades do norte e nordeste.
A comparação também é bastante discrepante quando é no orçamento de cada filme. De Pernas Pro Ar 2 foi feito com R$ 6 milhões, Minha Mãe é uma Peça custou R$ 5,5 milhões, enquanto Cine Holliúdy teve um orçamento de menos de R$ 1 milhão, e mesmo assim conquistou em seu fim de semana de estreia a invejável marca de 2,8 mil espectadores por cópia. Média não atingida nem mesmo por fenômenos como Tropa de Elite 2 ou Titanic.
E qual a grande diferença entre estes filmes?
Independente se por uma questão de estratégia ou por pura falta de dinheiro, Cine Holliúdy acertou em optar por um lançamento pequeno, que vai crescendo no boca-a-boca. Ainda sem previsão de estreia no sudeste, onde há a grande maioria do público de cinema, o filme já pode ser considerado um grande fenômeno de bilheteria no país. Mais bem sucedido até mesmo que um blockbusters como De Pernas Pro Ar 2, quanto mais comparado com promessas que não chegaram aos 2 milhões de espectadores.
Mas a estratégia de lançamento é apenas um ponto a ser observado no fenômeno cearense. Outra questão é o regionalismo. Enquanto a grande maioria das comédias nacionais opta pelo humor pasteurizado, concentrado no sudeste, mas com pouca identificação cultural com qualquer brasileiro. Há aqueles que timidamente colocam o regionalismo, mas apoiado em estereótipos preconceituosos.
Levanta-se então a questão: é o brasileiro que não gosta de filme nacional?
A partir do que é possível perceber com o caso Cine Holliúdy, o brasileiro quer sim ver o Brasil no cinema, mas não apenas para rir do outro, em um bairrismo copiado de programas de TV, mas também quer se identificar na tela. Em um país de grandes proporções, na ânsia por homogeneizar o enredo para atingir a todos, o cineasta acaba perdendo o principal que seu filme poderia ter: a identidade.
O problema vai além, quando se percebe a distribuição das salas de cinema, que se concentram na maior parte das vezes em grandes centros comerciais nas metrópoles, deixando a maioria dos municípios brasileiros sem qualquer opção. O mesmo acontece também com bairros da periferia das grandes cidades, onde seus moradores têm que se deslocar ao centro caso decidam ver algum filme. Tornando ainda mais cara a tração.Coincidentemente (ou não), o filme de Halder Gomes, baseado no curta do próprio diretor, Cine Holliúdy – O Astista contra o Caba do Mal, fala justamente sobre esta dificuldade do cinema encontrar o seu público. Principalmente do cinema popular. Se o filme não tem qualquer poder de resolver este problema, pode ao menos começar a abrir os olhos de grandes distribuidores e exibidores para o que se perde desprezando a maior parte da população brasileira.
O primeiro passo o herói do filme, Francisgleydisson, já deu, provando que uma comédia popular pode desbancar filmes como Wolverine: imortal, Círculo de fogo e Os Smurfs 2, se mantendo no topo das bilheterias no Ceará – e no top 10 do Brasil -, com casos inclusive de gente que chega ao cinema e, após ver que não há mais ingresso para Cine Holliúdy, acaba assistindo algum longa internacional. Agora é esperar pra ver o resultado depois dessa peia do astista no caba do ma

Nenhum comentário:

Postar um comentário